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Turismo espacial e Avenida Litorânea

E há quem diga que é sustentável...

Leila Figueiredo
Por: Leila Figueiredo
16/04/2025 às 17h33 Atualizada em 22/04/2025 às 15h56

11 minutos.
É o tempo que eu e você levamos para fazer um café. Tomar um banho. Ir de carro até o supermercado. Contar uma fofoca. Também é o tempo que 6 turistas ficaram no espaço essa semana.

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Nosso café, nosso trajeto de carro, nosso gasto de água e energia a cada ano fazem o brasileiro poluir a atmosfera com, em média, 2.2 toneladas de Dióxido de Carbono. É essa poluição que está aumentando a frequência e a duração de enchentes, de ondas de calor, e piorando as safras de café, arroz, e tudo o mais que você come.

Em 11 minutos as 6 turistas que ficaram flutuando no espaço poluiram a atmosfera, cada uma, com 75 toneladas de Dióxido de Carbono. 

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Turistar no espaço é destruir o planeta Terra. É gerar mais alagamentos em cidades que não estão preparadas pra isso. É matar mais gente de calor. É criar mais refugiados climáticos, gente como eu e você, que provavelmente precisaremos nos mudar de casa, bairro, ou cidade nos próximos 40 anos para (tentar) escapar da crise climática.

É por atitudes como o turismo espacial e outras barbáries feitas pelas 3 mil pessoas mais ricas do planeta que São Luís vai ser alagada.

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E não é a serpente. Deixa eu te contar essa fofoca em menos de 11 minutos:

A poluição por Dióxido de Carbono e outros gases tóxicos faz com que o planeta fique mais quente. É como ficar preso numa grande sauna, e a Terra não consegue abrir a porta. As geleiras derretem. Aumenta a quantidade de água no oceano. Essa água extra não pode ser tirada do mar. Não é como se a cantora pop pudesse levar baldes e baldes de água do mar e soltar no espaço. E sabe pra onde essa água extra vai? Pras regiões litorâneas de todos os continentes, invadindo o que hoje é orla. Recentemente a NASA indicou que esse aumento do nível do mar está acontecendo mais rápido do que o previsto. Ferramentas que transformam previsões científicas em mapas de risco mostram que, juntando o aumento do nível do mar, tempestades cada vez piores, e marés de sizígia, em 2060 o mar terá inundado parte do município da Raposa. A ‘Península’ da Ponta da Areia vai deixar de ser ‘península’ e será mar mesmo.

E a Avenida Litorânea? Ah, essa aí provavelmente estará debaixo d’água em 2060. O que é interessante, já que essa semana o governo do Maranhão assinou a ordem de serviço da extensão da Litorânea. Num planeta onde os muito ricos e famosos se recusam a parar de poluir, acelerando a catástrofe climática, o governo resolveu gastar alguns milhões para aumentar uma avenida usada majoritariamente pelas classes média e alta ludovicense. Ora, qualquer estudante de biologia poderia ter dito ao governador que esse é um gasto, no mínimo, mal pensado. Afinal, pra que construir uma infraestrutura não adaptada ao aumento do nível do mar na beira do mar?

Numa ilha com milhares de famílias em zonas de risco de desabamento, bairros alagados a cada chuva, e nenhuma infraestrutura de adaptação ao caos que se avizinha, seria óbvio gastar esse dinheiro (parece que são R$ 235,6 milhões) com obras que de fato fossem proteger a população: Canalização de água de chuva, atualização da estrutura de esgoto, plantio de manguezais em áreas de risco, construção de moradia popular, incentivo à ocupação de bairros mais seguros e que hoje estão esvaziados.

Mas aí, talvez, o pessoal do Alphaville não pudesse correr na praia nem aproveitar a vista no caminho pro trabalho, não é mesmo?

Parece que não são só as turistas espaciais que provaram essa semana que não tem mesmo qualquer noção da crise que estão ajudando a acelerar.

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Leila Figueiredo
Leila Figueiredo
É graduada em Ciências Biológicas pela UFMA, mestra em Biodiversidade e Conservação e doutora em Estudos do Desenvolvimento pela Lincoln University.
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