São Luís está envenenada.
Tem microplástico nos peixes da Baía de São Marcos. Tem tanto veneno no ar que as mortes por câncer de pulmão aumentaram mais de 200% nos últimos 25 anos. Tem gente fazendo aniversário de tosse. Tem Mercúrio na pescada-amarela e na corvina.
É de se imaginar então que o poder público faça alguma coisa pra reverter esse envenenamento. Ledo engano.
Em 2023, o Plano Diretor alardeado pela prefeitura e aceito pelos vereadores decidiu aumentar a Zona Industrial da cidade, possibilitando assim que mais fábricas sejam instaladas. Essa expansão da Zona Industrial não é no Renascença e nem na Península, onde moram os políticos que tanto afirmam que mais fábricas são boas pra cidade - ora, se é tão bom, por que os tais novos empreendimentos ‘sustentáveis’ não são instalados no quintal dos ricos?
Não. A expansão acontecerá sufocando a Zona Rural, área cheia de nascentes cristalinas, mata nativa, e comunidades que enfrentam diariamente os mandos e desmandos dos donos do dinheiro.
A população da Ilha, em geral, não sabe do que acontece. Não sabe que o veneno é jogado no ar e na água, sem cerimônia, por indústrias cujos donos nem moram em São Luís e, portanto, não sofrem com as consequências dos seus atos. O povo, desinformado, continua lotando as UPAs com bronquite.
Assistimos a grande mídia alardeando supostas boas novidades, mais empreendimentos, gás natural “sustentável” - faz-me rir, né? - mais portos, mais empresas. Um tal desenvolvimento que manda dólares pra quem já os tem e deixa pra população a necessidade de bombinhas de asma.
É difícil ter esperança. Mas eu tenho.
Porque há em São Luís um grupo de comunidades que enfrenta quem nos envenena. Um pessoal que desde 2003 luta pra transformar uma área de 16 mil hectares da Zona Rural em Reserva Extrativista: A RESEX Tauá Mirim. Esse tipo de Reserva é, segundo a legislação brasileira, um espaço para proteção socioambiental. E é justamente por não querer que a população tenha esse espaço de proteção, de respiro contra o veneno, de manutenção da mata nativa, da pesca, da agricultura familiar, que os poderosos do Maranhão e de Brasília se recusam a criar a RESEX. Afinal, a RESEX seria uma barreira contra a expansão das fábricas e do veneno. Quem tem poder não quer que o povo saiba que aquela região é pra São Luís o que a Amazônia é para o mundo. E quem dizia isso era Dona Máxima, liderança da Zona Rural, que morreu vítima do mesmo veneno que hoje sufoca a população da Ilha.
Na manhã desse sábado, 26 de abril, foi lançada uma campanha pra que a população conheça a importância da criação oficial da RESEX Tauá Mirim. Quem ama São Luís e não quer morrer envenenado precisa fazer parte dessa luta. Afinal, quem envenena o povo precisa não só de mais espaço pra expandir suas atividade; eles precisam também de uma população desorganizada e sem esperança, sufocando aos poucos; precisam que a luta pela RESEX não seja tópico da mídia, que a Zona Rural seja esquecida, que as comunidades sejam tratadas como “quem impede o desenvolvimento”.
Então eu te pergunto: você vai continuar se deixando envenenar ou vai se organizar?
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